Ao se analisar a história mundial, pode-se observar diversas ascensões e quedas de grandes potencias. Isso ocorreu, pois, a força relativa das principais nações nunca permanece constante, uma vez que existem recursos de poder distintos de nação para nação, proporcionando a uma sociedade maior vantagem do que a outra.
Paul Kennedy, em seu livro Ascensão e Queda das Grandes Potências (1989), utiliza o aparecimento do navio a vela, armado de canhões, e o crescimento do comércio atlântico depois de 1500 para exemplificar essa desigualdade evolutiva. Observa que esses fatos não foram uniformemente vantajosos para todos os Estados da Europa.
De acordo com a teoria matemática dos jogos, utilizada também nas Relações Internacionais, os jogadores, neste caso atores internacionais, buscam maximizar suas chances de ganhar ou aumentar o seu poder relativo. Desta maneira, quando se aumenta o poder de uma nação, é provável que diminua o mesmo em outra, logo, a história de ascensão e queda das grandes potencias ainda esta longe do seu ponto final. (SARFATI, 2005)
Seguindo essa mesma ótica, sem deixar de citar acontecimentos recentes como a crise econômica de 2008, a qual, coloca em questão o poderio de diversas nações, principalmente os Estados Unidos. Observa-se a ascensão de uma nova potência, a China, recém voltada para o Ocidente. Esta reúne características únicas, impossíveis de serem copiadas, o que desperta novos olhares curiosos e impulsiona diversos estudos sobre o tema.
É válido ressaltar que as considerações feitas por tais análises concentram-se principalmente nos aspectos econômicos desta potência como: grande mercado consumidor potencial e alta competitividade nas exportações. Em contrapartida, analisarei os fatores sócio-culturais, afinal, a economia por si só não eleva a China a condição de grande potência, pois este status, encontra-se aliado a outros fatores.
Joseph Nye (2004) expõe em seu conceito de poder brando, que para uma nação conquistar uma posição relevante no cenário internacional deve atrair corações e mentes de outras nações, havendo correspondência direta entre palavras e ações. A partir daqui, defenderei que os fatores culturais auxiliam em grande parte a ascensão desta nação.
Acreditava-se que com a globalização e a evolução tecnológica, principalmente nas áreas de comunicação, haveria em conseqüência maior cooperação e harmonia entre os povos, superando-se paixões “tribais” ou nacionalismos extremados. De fato a década de 90 apresenta progressos nas relações diplomáticas, ocorrendo nessa época grandes acordos internacionais.
No entanto, os atentados terroristas da Al Quaeda no dia 11 de setembro de 2001, são exemplos de que o fato do mundo ter se tornado mais rico e informatizado não implica necessariamente uma maior harmonia entre os povos. Nos últimos anos podemos observar também, o fortalecimento das crenças religiosas e diferenças culturais, inserindo os indivíduos em suas respectivas sociedades de forma gradativa.
A China, por sua vez, possui uma cultura milenar, que mesmo tendo sido renegada na Revolução Cultural Chinesa, ainda se encontra presente no cotidiano da população. O Confucionismo, por exemplo, criado pelo pensador Confúcio, ou Kung Fu Zi (551-479 a.C), influenciou na formação da sociedade chinesa.
Confúcio criou sua filosofia baseando-se em uma nova ética social. Destinava sua doutrina a formação de cidadãos honestos e de bom gênero, estimulando as manifestações artísticas como meio de descobrir e desenvolver seus potenciais (MARTINS, 2008).
Este fato, influenciou toda a formação intelectual chinesa, bem como o seu desenvolvimento tecnológico precoce, no qual, criou-se por exemplo, a bússola, pólvora e o papel. No entanto, a filosofia confucionista apesar de proporcionar uma estabilidade política, também tendia a sociedade ao fixismo no passado, que se mal administrado impedia uma maior expansão.
Se analisarmos a China pelo âmbito histórico, podemos observar grandes períodos hegemônicos mesclados com épocas de extrema pobreza. Um exemplo dessa hegemonia foi o Império do Meio (entre os anos 211 e 1911), nesta época a China e a Índia respondiam por mais da metade do PIB mundial e sua agricultura possuía um nível alto de sofisticação, que só seria atingido pelos europeus anos depois. (KENNEDY, 1989)
O grande fator, porém, que impediu a China de exercer um papel mais ativo no mundo, foi justamente a sua auto-suficiência, sendo comum naquele tempo o não interesse em se relacionar com estrangeiros, tornando impossível um maior destaque chinês para além de suas fronteiras.
Na contemporaneidade, notam-se constantes divergências internas que proporcionaram avanços e retrocessos principalmente no período entre 1958 a 1979. Neste espaço de aproximadamente 20 anos ocorreram diversas mudanças organizacionais.
Em 1957, a política do grande salto aumentaria a produção do campo almejando alcançar a Inglaterra em 15 anos, mas com precárias condições de trabalho para os camponeses, não aconteceu o que se esperava. Nesta época estima-se que quase 30 milhões de pessoas morreram de fome, além das várias fábricas que foram abandonadas (NABUCO, 2009).
Outro período de grande relevância na historia chinesa foi a Grande Revolução Cultural Proletária, iniciada em 1965 e tendo como destaque Mao Zedong. Esta Revolução impulsionou a população a mais uma vez se voltar para o campo em busca de uma ampliação na produção.
Porém, o principal prejuízo nesse período estava relacionado com questões culturais. Mao Zedong, recebendo o apoio do exército e de um grande número de jovens chineses, estimula a destruição de qualquer movimentação intelectual, devendo o individuo apenas aprender com a Revolução.
Esta repreensão perdurou, não com o mesmo nível de intensidade, até a morte de Mao Zedong. A partir daí, há uma abertura gradual da China para o exterior com relações comerciais e diplomáticas, principalmente após Deng Xiaoping se instituir no poder e investir na educação, indústria, defesa nacional e agricultura. Esse processo de modernização chinesa dura até hoje.
As Olimpíadas de 2008 marcaram a história chinesa, não só pelo seu esplendor visual e êxito obtido nas sedes esportivas, mas também por expor ao mundo uma China diferente, mais aberta a outras culturas e interessada em manter relações com o exterior. Como avaliou o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge: "Foi uma longa jornada, mas fizemos a escolha certa. O mundo aprendeu sobre a China, e a China aprendeu sobre o mundo".
Finalmente, ao observar este vasto território, notam-se divergências e inúmeros problemas internos a serem resolvidos, sendo difícil prever a ideologia e política da China de amanhã. Entretanto, seu peso demográfico, econômico, político e cultural, apontam para uma provável grandiosidade chinesa no cenário mundial dos próximos anos.
Artigo da acadêmica de Relações Internacionais da UFGD Vitória Moraes de Oliveira Reis
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então a vih escreve artigo?! e muito bom! Parabéns! eu até que entendi o negócio haha ;*
ResponderExcluirNooosssa, nem sabia disso tudo...
ResponderExcluirPensava outra coisa, :S
Parabéns, já não sou mais tão leigo!
Vick parabens, enfim arrazoou :D
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